domingo, 27 de setembro de 2009

As perguntas sem respostas.


Tenho enfrentado momentos díficeis em minha vida que tem me afastado muito de meus relatos e de meus escritos, mas penso que sairei muito mais forte desta batalha que já tem destruido muito de mim. Durante estas agruras tudo que tenho me esforçado para descobrir, é a resposta para uma pergunta insistente que eu mesmo nunca ousei me perguntar: "Quem sou eu?" Esta questão, apesar de nunca ter me incomodado, de nunca ter tomado muito do meu tempo, agora o tem feito de uma forma dura e impiedosa. Este blog não tem nada de moderno, nem nada de ultrapassado, mas tem muito de vida, de uma intimidade que quer ser dividida, que quer ser inteira, e como agora assim me percebo, assim me enxergo, não posso fazê-lo de outra forma, que não seja dividido com o silêncio deste blog. É um silêncio que muito me agrada, que não me faz sozinho, que me traz uma contemporaneidade que não encontro em lugar algum, e essa contemporaneidade me faz viver, me faz viver essa ingnorância que é tão atual.

Não sou dado à plágios, mas encontrei uma reposta em um texto de Clarice Lispector que se aproxima de uma resposta que eu mesmo poderia dar a esta pergunta, e aqui o faço.
Torço para que agora não seja mais perguntado sobre o tema. Torço também para logo estar de volta ao meu trabalho de escrita que tanto me alegra. E pra vocês: Clarice.




"Quero por em palavras mas sem descrição, a existência da gruta que faz algum tempo pintei, e não sei como. Só repetindo o seu doce horror, caverna de terror e das maravilhas, lugar de almas aflitas, inverno e inferno, substrato imprevisível do mal que está dentro de uma terra que não é fértil. Chamo a gruta com seu nome e ela passa a viver com seu miasma. Tenho medo então de mim que sei pintar o horror, eu, bicho de cavernas ecoantes que sou, e, sufoco porque sou palavra e também sou eco......para me interpretar e formular-me preciso de novos sinais e articulações novas em formas que se localizem aquém e além de minha história humana. transfiguro a realidade, sonhador e sonâmbulo me crio......o que te escrevo não vem de manso, subindo aos poucos até um auge para depois morrer de manso. Não, o que te escrevo é de fogo como os olhos em brasa......mesmo para os descrentes há o instante do desespero que é divino: a ausência do deus é um ato de religião. Neste mesmo instante estou pedindo a deus que me ajude, mesmo que não acredite que ele o faça. Sou forte mais também sou destrutivo. O deus tem que vir a mim já que não tenho ido a ele. Que o deus venha: por favor, mesmo que eu não mereça. Venha. Ou talvez os que menos merecem mais precisem. Sou inquieto áspero e desesperansado. Embora amor dentro de mim eu tenha. Só que não sei usar amor não. Às vezes me arranham como se fossem farpas. Se tanto amor dentro de mim eu recebi e continuo inquieto é porque preciso que o deus venha. Venha antes que seja tarde demais. Corro perigo como toda pessoa que vive. E a única coisa que me espera é exatamente o inesperado. Mas sei que terei paz antes da morte e que experimentarei um dia o delicado da vida. Perceberei assim como se come e se vive o gosto da comida. Minha voz cai no abismo do teu silêncio. Tu me lês em silêncio. Mas nesse ilimitado campo mudo desdobro minhas asas, livre para viver. Então aceito o pior e entro no âmago da morte e para isto estou vivo......preste atenção e é um favor: estou te convidando para mudar-se para reino novo, o deconhecido......escrevo-te tudo isto pois é um desafio que sou obrigado com humildade a aceitar. Sou assombrado pelos meus fantasmas, pelo que é mítico e fantástico, a vida é sobrenatural. Eu caminho em corda bamba até o limite do meu sonho. As vísceras torturadas pela voluptuosidade me guiam, fúria dos impulsos. Antes de me organizar tenho que me desgornaizar internamente. Para experimentar o primeiro e passageiro estado primário de liberdade. Da liberdade de errar, cair e levantar-me......mas não sei como captar o que acontece já, senão vivendo cada coisa que agora e já me ocorra e não importa o quê. Deixo o cavalo correr livre de pura alegria nobre......o que sou neste instante? Sou uma máquina de escrever fazendo ecoar as teclas secas na úmida madrugada. Há muito já não sou gente. Quiseram que eu fosse um objeto. Sou um objeto. Objeto sujo de sangue......mas eu denuncio. Denuncio nossa fraqueza, denuncio o horror alucinante de morrer, e respondo a toda esta infâmia com exatamente isto que vai ficar escrito, e respondo a toda esta infâmia com alegria. Puríssima e levíssima alegria. A minha única salvação é a alegria. Uma alegria atonal dentro do it essencial. Não faz sentido? Pois tem que fazer. Porque é cruel demais saber que a vida é única e que não temos como garantia senão a fé em trevas, porque é cruel demais, então respondo com a pureza de uma alegria indomável. Recuso-me a ficar triste..."

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