sábado, 1 de agosto de 2009

A violência na mídia.

A violência não está tão longe de nós como imaginamos que ela esteja, nem muito menos está tão perto quanto anuncia a mídia e seus reprodutores. Essa sensação de violência, esse pânico ininterrupto que tem nos levado a crer que não somos mais partícipes de uma sociedade equilibrada, mas que estamos sujeitos ao descompensado juízo da ausência de razão, vem se ploriferenando pelos canais mídiaticos, algumas vezes verídicas, e outras superestimadas. Nossas rotinas são alteradas pelo sensível estímulo da reprodução de uma realidade unitária, de uma realidade única e desprovida de sentido coletivo. A sensação de violência nos proporciona um sentimento de recolha que só favorece a própria violência, que se apropria de espaços que deveriam ser tomados pela sociedade, fazendo do espaço público um logradouro da violência, um templo de praticas delituosas, favorecendo assim a concretização do que antes era só um sentimento, projetando esse sentimento no nosso mundo real.
Não me atrevo a apresentar soluções para a violência nem mesmo buscar uma fundamentação lógica para seu surgimento, mas apenas desmitificar esse cenário que não nos faz informados, mas que só favorece a desinformação, e nos destrói enquanto seres sociáveis. Os espaços que se destinam ao convivio social devem, e podem, ser destinados à sua finalidade primária: o trânsito e permanência da cidadania.
Enquanto permitirmos que estes espaços sejam desocupados e que permaneçam inertes de nossa presença, estaremos colaborando para que os atos criminosos encontrem cenário, estaremos materializando a megalomania midiatica, e construindo uma conjuntura desprovida de soluções emergenciais, fazendo de nossas instituições corpos fálidos.
A ocupação fará com que nós nos permitamos sentir a descontrução dessa sensação de insegurança que foi suplantada pela mídia em nosso dia-à-dia. Sou realista quando somos informados da presença marginalizada da insegurança, mas não podemos permitir que esse status seja corroborado pela nossa ausência.
Estamos vivendo tempos de ocupação total, não contamos com tempo para quase nada, e quando nos sobra esse tempo, construímos um novo sentido de descanso, que não se relaciona com espaços públicos, mas que se destina a construção de espaços cada vez mais unitários, mais individuais. Essa realidade descontrói a lembrança lúdica de infâncias das décadas de 80 e 90, onde podíamos estar em praças e logradouros públicos acompanhados de nossos pares e, enquanto brincávamos, esses mesmos pares davam um novo sentido a palavra descanso; pois, sempre encontravam-se sentados em um banco de praça enquanto, nós crianças, nos ocupávamos de nossa função primeira: a diversão livre e coletiva. Pareço ter colocado um tom saudosista nestas últimas linhas, e ele está realmente presente nestas linhas e em minha memória, pois cada vez vejo menos gente ocupando estes logradouros, enquanto mais gente permanece em suas casas informando-se quanto à lista de locais com maior índice de criminalidade na cidade, mapeando seus passos do dia seguinte, selecionando onde poderão estacionar seus carros e por onde deverão andar para chegarem em casa, sãos e salvos, no dia seguinte.
E desde minha infância vi este sentido de descanso ser alterado, pois agora o descanso está isolado dentro de nossas casas, entre nossas grades, e mais seguro entre nossos lençóis, mas sempre lembrando que o descanso não está íntrinsecamente ligado ao sono, pois a mídia tomará conta de nosso sentimento de segurança, mas para isso teremos que estar seguros em nossas casas acomapnhando toda a programação informativa, todos os seriados e aqueles filmes que sempre parecem novidade, mas tem a mesma cara de 60 anos atrás. Fará diferença se estivermos presos em nossas casas, se tivermos trancafiados em nossos territórios, se nos tornarmos menos sociáveis; se não tomarmos conta de um espaço que é nosso, quem tomará?
O sentido de descanso agora se confunde com o sentido de violência, pois agora descansar é sinônimo de solidão, uma solidão que será aplacada pelos comerciais da TV, pois é dela que nos valeremos para ocupar nossa solidão, é ela que nos fará sentir que estamos seguros, enquanto dela estivermos aompanhados, pois por nós ela fará tudo, até pensar ela já pensa por nós, nem precisamos pagar tão caro por isso, só temos que com ela estar o máximo de tempo necessário, pois ela nos dirá quando será seguro sair de casa, pena que essa informação parace nunca chegar, e assim seguimos esperando, enquanto ela continua pensando por nós, enquanto ela nos informa de tudo que acontece, e temos os comerciais que estão sempre lá pra nos vender essas inutilidades nessárias ao nosso dia-á-dia.
Bom para nós, que temos a mídia para nos fazer seguros, e manter as ruas vazias, vazias de marginalidade, vazias de nós mesmos, vazias de diversão, vazias de produção de cultura, vazias de inteligência, pena que continuamos vazios diante dela.

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